sexta-feira, 22 de março de 2013

ÓRFÃOS DA PÁTRIA – Abandonados pelas autoridades brasileiras, soldados da borracha recorrem aos EUA para garantir aposentadoria digna


O batalhão de pracinhas da floresta, que foram abandonados a própria sorte após a Segunda Guerra Mundial continua a luta para ter seus direitos reconhecidos pela pátria que os recrutou e os abandonou a própria sorte na floresta Amazônica. Os soldados da borracha recorreram a Comissão Interamericana de Direitos Humanos dos EUA, para que intervenha junto ao governo brasileiro e faça a equiparação salarial da categoria aos pracinhas que combateram na Itália.

Com os canais de negociação praticamente esgotados no Brasil, uma comissão formada pelo representante do Sindicato dos Pensionistas e Soldados da Borracha do Acre (Siacre), Luziel Carvalho, a entidade sindical do Estado de Rondônia, a Defensoria Pública do Estado do Pará e o soldado da borracha José Soares, de 90 anos, foram recebidos para uma audiência pública com parlamentares norte-americanos no dia 13 de março, na cidade de Washington.

Assistente social Luziel Carvalho, do Siacre, entidade sindical representativa dos soldados da borracha na audiência pública nos EUA

“O objetivo da reunião era pedir a intervenção das autoridades dos EUA, junto ao Estado Brasileiro, já que o projeto de lei que garante uma pensão de sete salários mínimos aos soldados da borracha está parado no Congresso Nacional. A matéria tramitou e foi aprovada em todas as comissões, mas a má vontade impera e as autoridades brasileiras protelam um direito legitimo destas pessoas que são consideradas heróis apenas no papel”, diz Luziel.

Segundo o representante do Siacre, o Governo Federal reconheceu os soldados da borracha, como heróis, mas não garantiu os benefícios do Art. 53, que concede um salário digno e plano de saúde aos pracinhas brasileiros da Segunda Guerra Mundial. O Acre concentra 70% dos soldados da borracha. Dos 60 mil convocados pelo Governo Brasileiro, através do Tratado de Washington, apenas 12 mil ainda estão vivos. Mais de 35 mil morreram no período da guerra.

Segundo Luziel Carvalho, um representante do Governo Brasileiro que esteve na audiência pública nos EUA chegou a afirmar que a pensão paga aos soldados da borracha seria justa. Ele teria comparado os seringueiros convocados a integrar o esforço de guerra a pedido dos EUA, a agricultores. “Foi à forma que o governo achou para dizer que não aceita equiparar os vencimentos dos soldados da borracha ao dos pracinhas”, enfatiza Carvalho.

O sindicalista afirma que os seringueiros enfrentaram inimigos desconhecidos na floresta Amazônica, enquanto a força expedicionária brasileira tinha inimigo declarado. “Os soldados da borracha não sabiam que tipo de inimigo enfrentaria. Além dos perigos da floresta, doenças e o território inóspito, eles viveram um regime de escravidão nas mãos de seringalistas. No final, ainda foram descartados pela União que nem ao menos os levou de volta para casa”.

Audiência Pública dos soldados da borracha na Comissão Interamericana de Direitos Humanos dos EUA

Governo será notificado pelos EUA

José Soares, de 90 anos, representou os soldados da borracha na reunião no Congresso Americano

Após a realização da audiência pública em Washington, a síntese da denúncia dos soldados da borracha será publicada em 15 dias. O Governo Brasileiro vai ser notificado pela Comissão Interamericana de Direitos Humanos dos EUA, para apresentar as justificativas para a não efetivação dos direitos reivindicados pela categoria. O governo também será notificado formalmente para se posicionar sobre os direitos dos soldados da borracha.

“Recorremos aos EUA porque o país investiu recursos numerosos para custear os soldados da borracha, só que o nosso governo nunca utilizou este dinheiro para beneficiar os homens que foram convocados por um tratado firmado entre Brasil e EUA. Onde estão estes recursos? Por que os convocados pelo Governo Brasileiro foram abandonados na selva Amazônica? Estes questionamentos serão cobrados pelos parlamentares americanos”, afirma Luziel.

As autoridades norte-americanas apoiarão a proposta de criação de um instituto para trabalhar o acervo histórico dos soldados da borracha e incluir a participação dos seringueiros que participaram da Segunda Guerra Mundial, nos livros de história do Brasil. “ O brasileiro não conhecem a história destes combatentes que sofreram, foram abandonados e continuam sofrendo por um direito não respeitado”, destaca Luziel Carvalho.

Ray Melo, da redação de ac24horas

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