Por Chagas Batista
No momento em que policiais, professores, fiscais, enfermeiros, defensores, pirangueiros vão às ruas para protestar por direitos, “eu vou entrar também nessa jogada, porque eu fui o primeiro e já passou tanto Janeiro, mas se todos gostam eu vou voltar”. Vou me juntar ao movimento dos sem voz, sem emprego, sem diploma, sem farda e sem gravata, sem carro e sem transporte, sem terra e sem pão, sem lenço e sem documento, para também reclamar.
Nos últimos 10 anos o Acre mudou substancialmente. Organização do estado como instituição legal e democrática, grandes investimentos e melhoria da infra-estrutura e dos espaços públicos, programas de inclusão social e consideráveis avanços em educação, saúde e demais serviços. Mesmo sendo um estado pobre, certamente no mesmo período, avançamos mais que o resto do Brasil, que vem evoluindo na melhoria de seus indicadores sociais, entretanto, não podemos fechar os olhos para o grande desafio a ser enfrentado: a redução da pobreza e da desigualdade.
Não é precipitado afirmar, que pouco avançamos em termos em termos de distribuição de renda. É claro que os programas sociais de parcerias com governo federal, o volume de investimentos em obras publicas, transfere renda aos mais pobres, mas se observamos de forma mais atenta, vamos concluir que, quem mais ganhou nesse período foi a classe média e os mais ricos. (funcionalismo publico organizado, empresários do comercio, construção civil e prestadores de serviços). A acumulação de riqueza de um lado contrasta com a inexistência de bens do outro.
Um dado é suficiente para justificar essa preocupação: estima se que quase a metade da população acreana sobrevive com 120,00 reais da Bolsa Família. São milhares de famílias vivendo em condições de extrema dificuldade, em condições precárias de moradia, alimentação, educação, saúde, lazer e com pouco horizonte de melhoria de qualidade de vida. Esse quadro injusto e desigual reproduz mais pobreza, sofrimento e violência.
O problema da desigualdade e da injustiça é inerente ao sistema de produção capitalista hegemônico no mundo. Que concentra renda e exclui bilhões de vidas dos bens de consumo e de suas necessidades básicas. No mundo apenas 500 grandes coorporações, controlam quase 50% produção mundial. Aqui em nosso país, desde que Brasil é Brasil, imperar a brutalidade da concentração de poder e renda na mão de poucos. Mesmo com os avanços mais recente em termos de distribuição de renda, ainda temos apenas 6% da população Brasileira controlando a posse de todos os meios de produção. No Acre não é diferente, mas pode ser.
O caminho para enfrentar as desigualdades deve ser através da construção de um grande entendimento entre governo e a sociedade. Um pacto capaz de produzir mobilização popular, pela promoção de políticas de proteção social, de educação, saúde, trabalho e organização produtiva. A união do estado e da sociedade com base nesses compromissos deve ser o meio necessário para o desenvolvimento de um novo padrão civilizatório, contemporâneo, gerando de forma transparente os investimentos públicos, em conformidade com as possibilidades e necessidades da população.
Nesse momento em que assistimos em Rio Branco uma explosão de greves e manifestações, Professores, agentes de policia, gente de farda e de gravata vai às ruas fazer protestos e outras categorias já avisaram que também vão. Nesse momento de efervescência política e disposição de luta por direitos de vários seguimentos sociais, é importante lembrar dos esquecidos, sem voz, sem carteira assinada, sem transporte, sem planos de saúde, sem condições de ingressar o filho na universidade e sem dinheiro para garantir alimentação e uma moradia decente. Eles são quase a metade da população.
Se não enxergáramos isso, o professor não vai poder ter tanto orgulho da função que ocupa na transformação da sociedade. A policia vai ter muito trabalho de prender e contornar a explosão da delinqüência e da criminalidade, os defensores públicos não vão dar conta de cuidar dos processos, dos conflitos familiares e das pensões alimentícias, as enfermeiras e os médicos não vão ter tempo de atender e consultar tanta gente, especialmente de crianças e idosos, Muitos doentes por falta de alimentação e informação. Um Acre com todos e para todos é possível!Trabalhadores e excluídos de todo o Acre, UNI-VOS!
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