quarta-feira, 29 de abril de 2009

Perpétua Almeida abre o jogo sobre o escândalo das passagens




Caiu como uma bomba a veiculação nos jornais do Acre de notícia dando conta de que três dos oito deputados federais do Acre, favoreceram terceiros com a concessão de passagens aéreas para o exterior. O escândalo das passagens, como vem sendo chamado, citou 261 dos 513 deputados federais em uma lista do Congresso em Foco. Os registros obtidos junto as companhias aéreas revelam que a câmara dos deputados pagou 315 passagens para os Estados Unidos, 172 para Paris e 148 para Buenos Aires, no período de 2007/ 2008.Citada (na lista) por ter concedido uma passagem para Buenos Aires a um dirigente Nacional da Corrente Sindical Classista, a deputada Perpétua Almeida do PCdoB, mais votada em duas eleições seguidas para Deputada Federal no Acre, falou sobre o assunto com exclusividade para A Gazeta.


Deputada, a senhora que sempre afirmou pautar sua vida pública pela correção e não dar motivo de vergonha para o povo do Acre, como explica o fato de seu nome ter aparecido na lista por ter cedido uma passagem ao exterior?
Perpétua- Eu pauto e vou continuar pautando minha vida pública pela honestidade e, repito: não dou motivo para o povo do Acre, sejam meus eleitores ou não, se envergonharem. A seriedade com que trato o mandato que o povo me deu prova isso.
Mas, deputada, seu nome aparece na lista como doadora de uma passagem ao Dirigente Sindical João Batista Lemos para Buenos Aires. Passagem paga pela câmara dos deputados. Quem é João Batista?
Perpétua- Bem, companheira Silvânia, essa passagem podia ter aparecido no meu nome. E, se eu tivessem em Missão Oficial, desde que não em turismo, não vejo nenhum problema nisso. Mas, também considero necessário esclarecer as coisas. Nós do PcdoB sempre tivemos bem claro que o mandato é do partido e não nosso. Isso que o STF reconheceu agora (que o mandato é do Partido), já é prática do PCdoB desde que os mandatos existem. E, minha companheira, é com o partido mesmo que discutimos as nossas ações políticas e recebemos as orientações para os mandatos. João Batista (que aparece na lista como beneficiário da nossa cota de passagens ao exterior), é dirigente nacional do PCdoB e dirigente nacional da Corrente Sindical Classista. O João acompanha a bancada comunista na Câmara Federal, juntamente com Vagner Gomes, quando o assunto é Movimento Sindical. Ele foi a Buenos Aires representar a nossa bancada em um Congresso Internacional de Sindicatos Classistas do Cone Sul. Não cometemos nenhuma ilegalidade. Nossa bancada costuma enviar representantes em encontros no Brasil ou fora do Brasil.
A senhora defende então que a cota de passagem seja mantida?
Perpétua- Sim, Silvânia! A cota de passagens, como a Verba Indenizatória são necessárias ao exercício do mandato parlamentar. Mas, quero retomar completando a resposta anterior. Como eu dizia, não cometemos nenhuma ilegalidade. Nem com a passagem do João batista para Buenos Aires, nem com outras emitidas para dentro do Brasil. Defendemos essa viagem (a do João Batista), com a mesma convicção com que defendemos tantas outras. -Quer alguns exemplos mais recentes? –SIM, respondo. – Há duas semanas levei, junto com o Deputado Nilson Mourão, dois representantes dos demitidos da Eletroacre para uma reunião com representantes da Eletrobrás em Brasília. Foi graças a isso que conseguimos reverter a demissão de 50 trabalhadores, pais de famílias. Temos levado a Brasília, em reunião nas Comissões da Câmara e na Funasa representantes dos contaminados por DDT, tanto do Acre como de outros estados da Amazônia. Isso porque tenho consciência da necessidade que é aprovar uma lei que garanta uma indenização a esses trabalhadores que vinham morrendo silenciosamente. Hoje, infelizmente ainda continuam morrendo, mas o Congresso Nacional já acompanha a nossa briga. Aqui no Acre o povo o vem acompanhando essa luta e sabe que não podemos virar as costas para pessoas que tanto salvaram vidas na Amazônia. Aliás, companheira Silvânia, abrindo um parênteses aqui, quero agradecer, principalmente, o Jornal A Gazeta e a TV Gazeta por terem se dedicado a esta causa, a causa dos contaminados. A matéria do Sílvio, que distribui no plenário da Câmara e as reportagens da Angélica que reprisei nas Comissões da Amazônia e Direitos Humanos, causaram comoção a todos. Voltando a história das passagens, temos sempre ajudado a chegar em Brasília os representantes dos mototaxistas para acelerarmos a aprovação da lei que regulamenta a profissão deles; como ajudamos ainda a levar à Brasília os representantes dos chamados contratos irregulares, a PEC 54, pois queremos ver legalizados os mais de 10 mil servidores públicos do Acre. Olhe, companheira, talvez você não tenha noção, mas tenho ajudado tantos outros, com encaminhamentos para tratamento de saúde em Goiânia, São Paulo ou Brasília. Que bom que foi possível salvar a vida de muitos deles! Foram dezenas e dezenas de passagens usadas dessa forma que contribuíram para fazermos um mandato sério, justo, buscando sempre atender às necessidades da população.
Mas, esse não é o papel do Estado, dar assistência de saúde? Dizer que deu passagens para tratamento em outros estados não significa assumir a usurpação de papéis?
Perpétua- (risos) –Ah, amiga, isso funciona na teoria. Na prática, a situação é outra. Quem vai lembrar de quem é a responsabilidade frente a uma pessoa correndo o risco de morrer? Você iria? Se você se deparasse com uma pessoa que por algum motivo não conseguisse tratamento aqui no Estado e você tivesse condições de salvar aquela vida, deixaria de salvá-la simplesmente porque é obrigação do Estado, do TFD, que tem uma fila interminável? Essa não é uma questão de discutir competências. É uma questão de humanidade, de solidariedade. Agora mesmo estou hospedando no meu apartamento em Brasília uma companheira de um seringal do interior de Tarauacá. Essa brava companheira, de tantas lutas, tem problemas cardíacos sérios. Você acha que o mais correto seria deixá-la morrer no interior da floresta simplesmente porque saúde é obrigação do Estado ou porque deputado não deveria dar esse tipo de passagem? Vai ser um problema isso, aguarde pra ver...
Certo, voltando então a pergunta anterior: a senhora defende mesmo a manutenção dessa cota de passagens que está sendo condenada por ter servido a muitos para turismo no exterior?
Perpétua- Bem, primeiro, a Câmara precisa ter um mecanismo de controle para fiscalizar melhor o uso dessas verbas. Não pode só tomar providencias quando a imprensa faz uma denúncia. E a escolha que a mesa tem feito, convenhamos, é como jogar fora a água suja da banheira com a criança dentro. Defendo a cota de passagens e a Verba Indenizatória, sim, como todos os parlamentares sérios defendem, porque sabemos da necessidade que temos delas para o exercício dos mandatos. Entendemos que a Verba Indenizatória e a Cota de Passagens não são uma complementação salarial. Elas devem estar a serviço do bom desempenho do mandato. A extinção só vai favorecer a turma que tem dinheiro para bancar mandatos. Não é segredo para ninguém os comentários de que lá no Congresso Nacional está cheio das "bancadas", a "bancada da bala" por exemplo, diz-se, é formada por deputados ligados aos fabricantes de armas; a bancada ruralista, que nem sempre defende uma política de desenvolvimento para o setor, na verdade, tem se prestado muito mais a defender os interesses dos grandes latifundiários contra os pequenos produtores. Comenta-se, ainda, que lá tem os que fazem o jogo das grandes empreiteiras, como é o caso do recente escândalo envolvendo a Camargo Correia. Esses aí, nem precisam de seus salários ou cotas de passagens, são bancados por grandes corporações . Com a extinção da cota e verba indenizatória esses deputados, que atendem aos interesses do capital, de banqueiros e coisas assim, vão continuar viajando, pagando viagens, bancando mobilizações para aprovar seus projetos, na maioria das vezes escusos, enquanto os outros não terão meios de se contrapor. Quem vai perder com isso é o povo brasileiro, porque somente os deputados endinheirados, grandes empresários, os grandes empreiteiros ou amigos deles vão estar nas casas legislativas e representando exatamente os interesses deles e não do povo. Parlamentares com mandatos populares como eu, forjada no movimento sindical, que vivo do meu salário, preferimos as estruturas oficiais a ter que recorrer as "Camargos Correias" da vida para bancar nossos mandatos.
Os deputados já não ganham bem demais? O trabalhador brasileiro, não tem cota de passagem, auxílio paletó, auxílio telefone, postal, moradia. A maioria dos trabalhadores sobrevive com salário mínimo, Nesse contexto não é imoral tantas vantagens para deputados e senadores?
Perpétua- Silvânia, lembrei agora de uma resposta do Edvaldo, quando questionado por um jornalista se não estava muito caro realizar as sessões da Assembléia Aberta. O Edvaldo respondeu: a democracia custa muito caro. E é isso mesmo, a democracia sai caro, mas é necessária. Eu, particularmente, vivo do meu salário. A verba indenizatória e outras que você chama de vantagens são exclusivamente destinadas ao exercício do mandato e assim deve ser. Todo mundo no Acre sabe que eu passo as semanas em Brasília e os finais de semana no Acre. Tanto na capital Rio Branco, como no interior. Eu rodo esse interior todinho, o ano inteiro, e, isso tem um custo muito elevado. Se não fosse essa a verba indenizatória e a cota de passagens eu não poderia fazer isso. Também não recebo auxílio moradia. Moro com meus filhos em Brasília num apartamento funcional, da câmara. Espaçoso, mas simples. Quanto aos trabalhadores, que não precisam estar viajando como nós, reconheço que ganham pouco ( embora tem sido o governo do presidente Lula que tem pagado o maior salário mínimo do país), mas nossa luta é exatamente para que o país atinja uma condição de justiça social. Lutamos para que as pessoas tenham condições de vida digna, com empregos e bons salários, saúde, educação, moradia e lazer. Agora, se você me perguntar qual a minha opinião sobre os deputados e senadores que utilizam indevidamente a cota de passagens, para fazer turismo no exterior ou permitir que outros façam, ou que usam a verba indenizatória para fazer farra, ou se apropriarem dela como um dinheiro para uso pessoal, respondo que defendo uma investigação séria e punição a isso. Mas, que se separe o joio do trigo, porque não é justo jogar todos na vala comum. A bancada do PCdoB no Congresso foi a única que tirou nota defendendo a cota de passagem e a verba indenizatória. Quem errou que pague ou, se foi mal interpretado, que venha a público e se explique.
A senhora explicou suas razões, entretanto existe um clamor público...
Perpétua-Não creio que exista um clamor público. O que existem são interesses que estão forjando falsa reação da sociedade. O que há por trás disso é uma tentativa de desviar o foco das atenções. Olha só, exatamente quando estamos no meio de uma crise que atingiu o mundo todo e o Brasil e, por isso mesmo há tanto a se fazer, o foco das atenções foi deslocado para a questão das verbas indenizatórias e cotas de passagens no Congresso Nacional. Ninguém da grande mídia está aí questionando a quebradeira do sistema financeiro internacional que tem trazido trilhões de prejuízos ao planeta. Como disse o Lula, os brancos de olhos azuis, e (risos), acredito, ele usou essa metáfora para se referir ao primeiro mundo, quebraram seus bancos suas empresas especulativas e mandam a conta agora para nós pagarmos. Aliás, a grande mídia, nem tem interesse de mostrar que o Brasil sofre em grau menor devido termos aqui bancos públicos fortalecidos e sobre a tutela do Estado. O que pergunto, então, é: a quem beneficia o silêncio e a omissão do congresso? A quem interessa um Congresso agachado? Ao povo é que não é. É preciso estarmos atentos a casca de banana que estão nos jogando. Cair nessa esparrela, é deixar o Congresso nacional entregue aos poderosos no pleito vindouro. A gente embarca, as vezes em uma canoa furada, e, depois de naufragar, companheira, bota umas décadas aí para se reerguer como nação. Já disse: vamos punir quem errou e tocar o barco pra frente.
Por quê a senhora só se pronunciou sobre este assunto agora? Estava esperando as orientações do seu partido? (risos)
Perpétua- Não, Silvânia, apesar de sempre ter a orientação do meu partido como referencia. Olha, companheira, eu já dei entrevista sobre esse assunto ao repórter Mariano Maciel da TV Gazeta, que corretamente me procurou antes de fazer a matéria. Mas, além dele e de você, nenhum outro jornalista me procurou. Eu não tenho nenhum problema em falar deste ou de qualquer outro assunto, ou em responder qualquer questionamento. Outro dia (risos), numa reunião de avaliação do mandato, com umas 80 pessoas, ouvi de uma companheira , que na minha assessoria não tinha blindagem para chegar até a mim. Achei isso legal, não tinha visto por essa ótica. Mas é que sou assim mesmo. Ninguém tem dificuldade de chegar até a mim. As pessoas tratam seus problemas comigo até nas filas de supermercados. Encaro isso com naturalidade. (risos). Adooooro fazer a feira, lá reencontro várias amigas e ponho o papo em dia. Agora, voltando ao assunto, os jornais ou sites que abordaram aqui no Acre a história da lista, se tivessem me procurado, seriam recebidos com o mesmo respeito e facilidade com que você foi. Aliás, todos os jornalistas sabem o número do meu celular, dos meus assessores, dos gabinetes e, até do meu marido, que é uma pessoa pública. Companheira, tanto o gabinete em Brasília, como o escritório no Acre não fecham nem no horário de almoço, nem mesmo no recesso parlamentar. Sempre estive e estarei bem acessível, disponível para tratar de qualquer assunto, por mais espinhoso que para alguns pareça ser.
Deputada, pra onde está embarcando agora? (essa entrevista foi concedida no aeroporto de Rio Branco, na manha de sábado)
-Olha companheira Silvânia, obrigada aqui por nosso papo, estou embarcando agora, novamente, para Feijó. Já estive lá na semana passada, tratando de casas populares e da formação de uma turma de enfermagem( aquela região, Feijó, Tarauacá e Jordão não tem enfermeiros formados). Mas hoje volto lá para tratar de um assunto delicado, com pelo menos 500 trabalhadores rurais, que é a proibição deles brocarem e queimarem seus roçados. Sobre isso, dá uma olhadinha no artigo que mandei pra Gazeta publicar no Domingo. Pode ser a nossa próxima pauta (risos).


Fonte: Blog da Perpétua

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